Outro norueguês de ouro... Geir Skeie



Fazia uns dias que eu queria escrever sobre esse moço lindo da foto. Ele se chama Geir Skeie e é o chef vencedor do Bocuse D'Or de 2009. Geir trouxe para a Noruega pela quarta vez o prêmio Bocuse D'Or e o país se mantém como o segundo país (só perde para a França) com mais vitórias neste concurso de culinária francesa.

Geir Skeie, que em 2008 venceu o Bocuse D'Or da Europa, é o chef do restaurante Midtåsen Solvold um restaurante tradicional em Sandefjord, uma cidadezinha ao sul de Oslo. O site do restaurante Midtåsen Solvold é praticamente todo em norueguês e mantém apenas uma pagininha em inglês, mas vale a pena dar uma olhada para conhecer.

A Noruega ficou também, indiretamente, com o Bocuse de Prata pois quem ficou em segundo lugar foi o sueco Jonas Lundgren que até o começo do ano era chef no restaurante Bagatelle em Oslo.


(A celebração da equipe da Noruega depois de receber o prêmio Bocuse D'Or de 2009 em Lyon, na França)

A vitória destes moços é muito bacana pois havia um coro nojento de 'já ganhou' e uma corrente prá frente em torno do concorrente dos EUA, Timothy Hollingsworth, do restaurante French Laundry na Califórnia. O próprio Thomas Keller, criador e chef dos chefs do French Laundry, era o presidente da comissão dos Estados Unidos neste Bocuse D'Or e foi convidado pessoalmente por Paul Bocuse para comandar a comissão de seu país numa cerimônia em Manhattan onde Keller mantém o restaurante Per Se.

Durante a competição que ocorreu entre os dias 27 a 29 de janeiro a cobertura do New York Times do Bocuse D'Or 2009, que eles chamavam de Olimpíadas da Comida, insinuava uma vitória garantida para os EUA. A atitude deslumbrada do jornal é resultado tanto da adoração (por parte dos norteamericanos que se interessam por culinária) pelo Thomas Keller como influenciada pelo fato dos EUA nunca terem investido tanto para vencer uma competição. Para o leitor do NYT a presença de Keller como chefe da comissão americana e o país unido ao redor de Timothy Hollingsworth eram símbolos de vitória.

A cobertura do New York Times ignorou praticamente todos os demais concorrentes, sim eles em geral agem assim mesmo, focando apenas no time dos EUA (alguns vão defender que isso é natural) e no concorrente francês por acreditar que só a comissão da França tinha chances de interromper a festa Californiana. E tudo saiu como deveria: inesperado. O americano e o francês perderam e o norueguês ganhou.


(O caminhão da Noruega que saiu de Sandefjord com uma cozinha idêntica a cozinha da competição recebeu a atenção da imprensa e foi até motivo de piada. Na foto do caminhão Geier segura um peixe, um 'bacalhau'/cod fresco.)

Geir Skeie exibiu coisas lindas e arrasou na competição. Os americanos e o NYT não o acompanharam já que não acompanharam o que estava acontecendo nas outras cozinhas e no final da competição não tinham o que falar sobre o vencedor. Tudo o que saiu no NYT foi o menu criado e servido pelo chef da Noruega.

Mas por que eu me preocupo com uma competição de culinária francesa que não é a única competição de culinária no mundo, e com a cobertura do NYT? Será que é porque eu não tenho nada para fazer? Não. Absolutamente não. É...

1. para mostrar ao meu pequeno público leitor que o NYT informa mal os seus leitores não apresentando ao seu público os concorrentes ao Bocuse D'or, ficou rasgando seda para o Thomas Keller e, além disso, não explicou a vitória de Geir Skeie;

2. e para mostrar que existe um mundo vasto, recheado de talentos e criatividade fora do universo da língua inglesa e, principalmente, fora do circuito Paris-Londres-New York.


(Geir Skeie e seu assistente. Skeie de 28 anos já tinha vencido o Bocuse D'Or Europa em 2008)

Uma vez eu escrevi que acho uma monotonia o mundo culinário da internet em inglês. Apesar da língua inglesa servir de 'língua-veículo', de plataforma de comunicação entre povos e culturas diferentes, o que se vê em inglês não é um universo livre e rico em diversidade e criatividade. O que se vê é muita repetição e um arsenal de obviedades. O que eu vejo e critico é uma submissão ao modelo americano, e de certa forma inglês, de se fazer sites e blogs de comida e à forma como esses povos se relacionam com a comida de uma maneira geral. Este modelo dominante que vem sendo apresentado e 'vendido' através da internet, apesar de ser muito bonitinho e de se vender muito bem, não é o que há de mais interessante para se ver e comer neste mundo. O nosso planetinha é bem maior e bem mais interessante do que a internet de língua inglesa pode exibir.

Na minha opinião a internet em português, ou em espanhol por exemplo, é muito mais rica e instigante do que a internet de língua inglesa. Um milhão de anos mais original e autêntica. Nem tudo, claro. Não acho que ser autêntico seja um adjetivo fundamental. Para mim ser diverso e ser criativo é muito mais fundamental. Em todas as línguas e em todas as culturas existem talentos e coisas legais para se ver e comer e o planeta está aí mesmo para nos surpreender e revelar os talentos escondidos em seus quatro cantos.

O que para uns foi decepção, para outros foi confirmação. A vitória de Geir também justificou o imenso esforço da Noruega na competição e o famoso caminhão foi apenas um exemplo disso. O melhor de tudo é que eu e Per já planejamos visitar o Midtåsen Solvold em abril ou quando o clima desgraçado daqui melhorar. Duas amigas e uma irmã do Per moram na cidade vizinha a Sandefjord, em Larvik, e combinamos ir visitar este ano de qualquer jeito. Pagaremos NOK $1.100 (mil e cem coroas norueguesas correspondem a mais ou menos R$ 350,00) por pessoa pelos 8 pratos da refeição principal com felicidade!!!


(O sueco Jonas Lundgren que ficou em segundo lugar. Lundgren atualmente trabalha em Oslo mas já trabalhou para o americano Thomas Keller no French Laundry).

Todas as fotos foram reproduzidas do site do Bocuse D'Or e do site/blog de Geir Skeier.

Comentários

Unknown disse…
Clau, adorei o seu post, acho importante falar que não é só EUA e França que manda bem na cozinha ou qualquer outro setor, acho lindo quando pessoas que iriam falar "grande coisa" ganha esses concursos.
Deixa eu te fazer uma pergunta, não é você que tem enteado que está estudando gastronomia?
Se for, até pensei que era ele, ia já gritar aqui hehe
Bjs
Claudia disse…
Nana,

meu enteado está estudando para ser chef sim e trabalha como trainee na cozinha de um hotel em Røros uma cidadezinha turística nas montanhas aqui perto. Mas não foi ele não, quem ganhou foi um chef bem mais experiente apesar de jovem.

Beijos,

C.
Glau disse…
sem contar que ele tem cara de novinho, mas é bem gatinho!

pra ser bem curta e grossa... essa cultura "ameuricana" enche o saco! entenda, não estou criticando os americanos, mas o "nosso é mto melhor"..

Clau, me fala o que vc quer de madeira que eu faço! a caixinha da vaca já tá separada pra vc! :)

bjo
Cláudia Marques disse…
Estou com vocês, não suporto a mania dos americanos de se acharem os maiores e melhores. Não há paciência!
Cláudia, parabéns para a Noruega, que acaba por ser tb um pouco o seu país, não é? apesar de vc estar zangada com o clima... (eu tb estaria, pode ter a certeza).

E esse chef é lindo mesmo...

mas vc vai aguentar 8 pratos?? ou são daqueles com um niquinho de comida lá no meio?

bjs
Claudia disse…
Glauzinha,

Sua caixa de vaquinha vai ser minha por uns 5 segundos ou o tempo que leve até dona Estelita botar os olhos nela, nunca vi guria mais olhuda que esta aqui de casa. Minha mãe diz que eu era mais olhuda do que ela...
'En-fim',(falado com sotaque francês) não 'se avexe não'(falado com sotaque pernambucano), quando a gente aparecer em Sampa a gente escolhe umas coisinhas para comprar e trazer para embelezar a terrinha gelada.

Claudia,

Sim, a Noruega é muito a minha terra, eu reclamo mas amo este país também.

Mas quanto ao jantar no restaurante do poderoso.... eu acho que os 8 pratos serão porções pequenas, mas calculados para uma pessoa 'normal' aguentar comer sozinha. Mas não deve ser nada tão pequeno como as porções 'na colher' da nova cozinha espanhola...


Beijos,

C.
Isabel disse…
Primeira coisa, eu acho que vou ter que me mudar para a Noruega porque esses nórdicos são muito lindos!
Segunda, concordo contigo, em geral os Americanos tem um ego gigante e ignoram o resto do mundo. Viva a Noruega por mostrar que os países considerados periféricos no mundo da culinária podem surpreender e têm tanto valor como os gigantes EUA e França.
Claudia,
Já ganhou, já ganhou!
É isso mesmo. Como se diz, concordo em número, gênero e grau. Será que ainda se fala assim, ou eu estou entregando minha idade?
beijos
Claudia disse…
Isabel,

Se você gosta de louros você precisa mudar já para cá. Mas esses nordicos não são só bonitos por fora, são ainda melhores por dentro. A gente aqui brinca que o melhor produto da Noruega são os maridos (hahaha).

Helô,

Eu também falo essa expressão numero, genero e grau. Acho que ainda se fala bastante, não precisa se preocupar não...

Beijos,

C.
Isabel disse…
Cláudia, com essa fiquei convencida. Bonitos por dentro e por fora! Vou assim que começar o Verão!!!
Boa noite, Cláudia!

Um colega meu, que ganhou o título de melhor ajudante de cozinha no campeonato de Espanha, foi convidado para ir ver o Bocuse D'Or e disse-me que foi fantástico!
Eu daria tudo para ter visto ao vivo o campeonato do mundo de comida, mas daria muito mais para ter visto o de pastelaria que acontece no mesmo local.

Ainda tive a sorte de ter estado com o livro de receitas doces de todos os campeonatos do mundo dos últimos 20 anos e ter fotografado todas as páginas para experimentar depois...eheheheh :)

Eu também acho que o mundo da comida em Inglês se torna bastante repetitivo, baseando-se sempre no mesmo tipo de preparações e apresentação.
...o mundo não tem fim....:)

Beijo!

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